Impulsionada pelo último dia 22 de setembro, data na qual meu querido pai completou 18 anos de falecimento, decidi fazer algo que em igual período nunca havia me proposto, ou seja, tentar externalizar em forma de palavras sentimentos tão profundamente enraizados em meu coração desde o último "adeus".
A partida de alguém que amamos é penosa para quem fica, pois a ausência não consentida deixa rastros, e nos resta apenas a companhia das lembranças, estas que o tempo insiste em ir desbotando, mas nós com a mesma relutância não permitimos...são momentos que se eternizam em nossa memória, e quando estamos sozinhos nossos pensamentos viajam para encontrar o alguém querido que não está mais ao nosso alcance.
E como é estranho esse negócio de morte hein ?? já pararam alguns minutinhos da correria do dia-a-dia afim de refletir sobre esse tema ?!? a vida sob vários aspectos é cíclica, nascemos, frutos do amor (de Deus e de nossos pais), crescemos, conforme o processo natural, nos apaixonamos, diversas vezes e por várias "coisas" e "pessoas", até que um belo dia escolhemos um certo alguém, nos reproduzimos (que termo né ?? mas além de ser bíblico, é científico), em outras palavras, deixamos nosso nome na história através dos nossos filhos que são a continuação do nosso legado, isso tudo ao passo que vamos envelhecendo, comportamentos e prioridades vão ganhando nova roupagem, a maturidade vem com a idade, até que a única coisa certa nessa jornada toda, de repente, acontece...algo que desde sempre sabemos ser inevitável, contudo, nunca estamos preparados, conformados...é ela mesmo, a morte, o cessar de uma trajetória...mas Ó, o pior mesmo é quando esse fenômeno natural ocorre de uma hora pra outra, no auge, sem ter concluído todas as etapas descritas, o chamado Ciclo Vital...aí, eu por experiência própria, afirmo que a revolta é maior, o sentimento de impotência frente ao desconhecido, ao incompreensível, apodera-se da nossa mente...como aceitar que de forma abrupta alguém, detentor de todo nosso amor, nos foi arrancado ?? eu respondo...não dá pra aceitar !!!
E foi assim em 1992, um ano conturbado, marcado por uma tragédia imensurável...eu com apenas 9 anos de idade me vi obrigada a lidar com a triste realidade...meu pai, minha primeira paixão, minha referência masculina, simplesmente foi suprimido da minha vida, de maneira prematura e dolorosa...uma doença traçoeira e cruel sorrateiramente foi tomando conta do seu organismo...e quando de fato se manifestou, já não havia muito o que ser feito, meses a fio de tratamentos, medicações, numa odisséia massante e devastadora...o último Adeus foi mais como um "até já", mas o amanhã nunca chegou pra ele (pausa)...sua volta à Manaus foi consentida pelos médicos paulistas, pois estes já sabiam que seu estado era terminal...tinha José no nome, e lutou até o fim...fez tudo que tinha direito antes da partida eterna, foi ver o Mar, comeu seus pratos prediletos e ainda fumou o último cigarro, regressou para casa, queria está mais uma vez com os filhos ainda que fosse a derradeira...lembro como se fosse hoje o momento que o revi depois da doença já avançada...aquele corpo forte que ao me abraçar dissipava todos meus medos e me dava a nítida sensação de que nada de ruim poderia acontecer comigo, já não existia mais, sua aparência de outrora havia dado lugar a uma cansada, frágil, estava bem magrinho, careca, por conta de incessantes sessões de quimioterapia, com um tubo enorme de oxigênio do lado auxiliando a sua respiração...confesso que custei a acreditar que aquele fosse meu pai, estava completamente mudado, não lembrava em nada o homem forte e saudável de meses antes...e naquela madrugada ele enfim descansou, já tinha cumprido sua missão na terra...meu mundo desabou, me reerguer foi complicado, vontade de desistir de tudo...mas com o tempo veio o conforto, sabia que ele não iria gostar de me ver daquele jeito...até hoje dói, e sempre vai doer...mesmo que eu viva 100 anos...só sobraram as recordações...
Pensar que nunca mais a gente vai ver a pessoa novamente é desesperador, mas o desespero é a doença da alma, devemos nos apegar a Deus, só ele é capaz de nos dá a força necessária para continuar, seguir em frente...a ferida nunca sara, volta e meia ela sangra, mas se entregar não é nem de longe a melhor forma de se lidar com a perda...assim, eu vou seguindo, com a certeza de que ele sempre estará comigo, no meu coração e memória !!! Amar-te-ei para todo o sempre...
Morgana Mendonça
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